Patrimônio
Comprometida pela hera, Catedral do Redentor aguarda reforma
Notabilizada também pela vegetação nas paredes, igreja busca recursos através de leis de incentivo
Carlos Queiroz - DP - Vegetação dá característica única e inspira o apelido dado à igreja
A Catedral Anglicana do Redentor, inaugurada em 1909, um dos cartões-postais mais icônicos de Pelotas, está sendo ameaçada pela sua característica mais marcante: a hera. A vegetação que encobre o templo popularmente conhecido também como "Igreja Cabeluda" compromete parte da estrutura do prédio centenário, e, agora, o objetivo é buscar recursos para uma reforma que garanta a segurança sem descaracterizar o local.
Além dos danos causados pela planta, outros aspectos da igreja também sofreram a ação do tempo, como o madeiramento do telhado e do assoalho, atingido pela umidade e pelos cupins. Atualmente, a hera invadiu dutos de drenagem e calhas e todo o reboco externo está comprometido. Aos fundos da catedral, a êxedra (área semicircular), inaugurada em 1922, também enfrenta problemas e reparos emergenciais já foram feitos para garantir que o telhado não ruísse.
Para tornar a recuperação realidade, o custo estimado é de R$ 2 milhões e envolve o trabalho de arquitetos e restauradores. Com mediação da Santa Fé Produtora e Patrimônio, a missão agora é buscar por empresas dispostas a patrocinar o projeto através da Lei de Incentivo à Cultura (LIC) do RS ou da Lei Rouanet.
Tirar a reforma do papel, no entanto, passa por alguns desafios. Como o prédio é um patrimônio tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 2018, isso impede que algumas interferências sejam feitas, em especial com relação à hera, que não pode ser removida totalmente para não descaracterizar o conjunto arquitetônico. Com isso, em algumas partes do prédio, a intervenção deverá envolver análise minuciosa de como garantir a integridade da estrutura sem a remoção da planta.
Originalmente, a igreja, construída entre 1908 e 1909, não possuía a vegetação e revelava mais claramente a sua arquitetura no estilo gótico. Ao longo das décadas, a hera, plantada na década de 1910, fez com que o templo anglicano tivesse beleza única, com as folhas mudando de cor e funcionando como um calendário estético e afetivo do sul do País na passagem das estações. A vegetação, que toma as paredes e a torre do templo, acabou gerando dano a parte da estrutura, aliada à umidade. Em algumas partes da parede é possível ver as raízes vencendo a alvenaria e tomando conta, entre os tijolos e o reboco.
Dedicação religiosa e cultural
A bispa Meriglei Simin, que lidera a Diocese Anglicana de Pelotas, considera que a Catedral não é apenas um patrimônio da comunidade religiosa, mas também da cultura da região. "A Catedral do Redentor é um patrimônio de todos nós, da cidade, tem que ser abraçada pela cidade e pelas empresas. Para manter toda essa beleza é necessário fazermos isso", defende.
Para a reverenda, encarar o desafio de tirar a obra do papel é uma honra. "Sempre me chamaram muita atenção esses templos históricos porque são vidas, se você lê a história da Catedral. Talvez a pessoa que trouxe essa hera não imaginava que nós estaríamos aqui cem anos depois. Eu gosto desse desafio de fazer com que a comunidade sinta que isso aqui é parte sua. Quantas pessoas se casaram, se batizaram, quantas pessoas passaram por aqui?", reflete.
Josiele Castro, da Santa Fé, explica que o objetivo não é fazer uma reforma completa do templo, mas garantir as condições de funcionamento da igreja. "O importante é nós fazermos o que é necessário, que é caro, que compromete mais. O restante é a ação da própria comunidade para preservar aquilo que é dela", diz.
Sobre os estragos causados pela hera, Josiele explica que será realizado um trabalho de restauro, diminuindo os impactos. "Nós temos que fazer a conservação curativa das paredes sem desrespeitar a vegetação, sem matar. Ela é um organismo vivo. O desafio é utilizar o conhecimento dos restauradores para deixar na melhor condição possível respeitando a planta."
Segundo a produtora, a etapa atual é de levantamento das necessidades para o planejamento orçamentário. Empresas interessadas em patrocinar o projeto já estão sendo contatadas e a intenção é de que ainda este ano seja acertada a parceria. A expectativa é de que as obras sejam concluídas até o final de 2024.
Parte da vida
O interior do templo centenário foi palco da história de centenas de pessoas ao longo dos anos. Cirley Ribeiro, 82, frequenta a Catedral do Redentor há mais de seis décadas. "Eu frequento a Santíssima Trindade, do Fragata, mas sempre venho aqui. Vim com os filhos todos, com os netos. Agora estou vindo com a bisneta, faz parte da minha história. São minhas raízes aqui", compartilha.
Empresas interessadas em participar da captação de recursos para a reforma podem entrar em contato pelo telefone (53) 98122-5142.
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